terça-feira, 29 de julho de 2008

Enfim, qual é a graça.


Não costumo achar muita graça das coisas que me acontecem apesar de na maioria das vezes causarmos (eu e minha ironia) alegria a muita gente. Ainda não sei se é meu jeito despreocupado de contar a vida, ou minha falta de emoção diante dela, mas o que posso dizer é que me diverti muito ontem.
De volta a minha cidade natal, a qual visito muito pouco, relembro sempre com carinho as pessoas e lugares que passei, mas não me reporto mais a essas lembranças com nostálgica saudade.
Quando sorria não via graça na vida, às vezes tão mudada, as vezes tão sem escolhas, tão pequena, pobre de pensamento, de tempo pra viver longe do pensar da conta, da cota, da Norma. Antes de ontem e depois de amanhã continuo achando absurda a forma de se ver a vida por aqui, essa vidinha decepada, mas ontem não.
Não falava sobre assuntos considerados importantes, nem mesmo sobre o livro que estou lendo, hábito um pouco solitário demais por aqui. Não me lembro também de ter falado de amor, de paixões mal resolvidas, daquelas da minha infância, daquelas cartinhas que não respondi, sequer falei daquele noivo que abandonei ... Não falei das minhas poucas viagens, das várias drogas que usei, sequer repeti incessantemente que a democracia não funciona, não insisti que a cana é uma cultura que destrói tudo por aqui... Agora roubamos meia dúzia delas no canavial e chupamos com muito gosto.Não me intrometi no gosto musical do outro, na atitude ora mesquinha, ora utópica demais, como se carregasse em mim o manual do melhor do ser. Não discuti questões filosóficas, daquelas de boteco, que aí sim se vê muito por aqui... Ontem não! Apenas ontem escutei, fomos de novo aqueles que sonhavam somente continuar a ser, ontem fui inocente, feliz e ignorante, fui criança, fui sincera como há muito tempo não era, fui quem não questiona a si mesma e não duvida em nenhum momento, de se quer um ato ou um gesto, fui quem não duvida do que se quer. Fui quem não pestanejou, quem não recuou, quem não pensou, quem não jogou. Fui o que não dá mais para ser todos os dias, não hoje!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

a porca-ria!


que merda de poeta me tornei, estou em um quarto sujo, ainda não sei onde. vejo algumas luzes da janela, pago adiantado para o senhor desconfiado. sentada sobre os lençóis, distorço assuntos quase esquecidos, pego aquele pobre despercebido, exibo com orgulho minha solidão, invento problemas, ressuscito fatos esquecidos e os entorpeço. mas quase nunca dizem quase coisa alguma. vomito minha alma nojenta, eufemismos me salvam...
talvez a vodka, talvez o sonho venha, aumentando minha vontade de viver lá fora nessas noites geladas de papel branco. mas é só a vodka, por enquanto só. escuto estrondos no quarto ao lado, a essas horas! nesse fim de lugar! já no começo da noite!
quase prendo a respiração para escutar. a senhorita gritava, e até certo momento acreditei ser de prazer, mas a alguns minutos que já não escuto seus berros, sua boca abafada e sua respiração ofegante que passava pelo vão das paredes e do teto sem forro. a estrada não é muito aconselhável, ao menos para aqueles que vivem com prudência. enfiei-me nas cobertas, e coloquei meus fones de ouvido, minha fita já velha, não berra, sussurra “women is loser “, janis joplin me traria uma boa estória.
o corpo não foi encontrado mas os orgasmos foram múltiplos.




quinta-feira, 10 de julho de 2008

da Cor do trigo maduro


Enfim não eras meu álibi
de longe apenas uma figura flavi
Posso ser uma alimaria flébil e febril,
um pouco mais que sempre...
Sou esse bicho alinegro
que deseja alijar-se
ou alimentar-se
deste ser flavo
Flerto,
sem me fletir,
me curvar
gosto,
às vezes de você,
às vezes de um homem alindado, inventado...
Com quase um instinto de lembranças alistridentes
Ainda eu, bicho, espero só o momento para aliciar-te
*
falvi/flavo: dourado, louro; da cor do trigo maduro
flébil: lacrimoso, plangente
alinegro: de asas negras
alijar: aliviar a carga
fletir: dobrar
alistridente: que faz barulho com as asas

Dionisíaco

ÓCIO

Acordo! Antes do cigarro, uma manchete no jornal da T.V., o sol na fresta na sala calada, o ronco do quarto ao lado, os mínimos detalhes confusos do despertar. Procuro, mas perdi o controle a algum tempo, ah... antes um cigarro!É bom não acordar de ressaca, mas aí agente começa a prestar muita atenção na TV; Garota morta pelos pais, garotos pelos pais, polícia sobe o morro. O sangue não só escorre pelas bandas de lá. A corrupção está por todos os lados que ainda consigo ver mas nenhuma novidade, nada que realmente interesse. O suor da testa de cada dia não rastreia meus passos, pegadas não deixo forjo e faço coisas que já me agradam em partes. Escondo atrás das atrocidades que não tive tempo de cometer, grito calada.Cometo crimes, poucos consideráveis, detestáveis apenas pela falta de sentido que satisfazem pouco de mim, como um acorde. Olhares despercebidos a míngua. Agrado poucos, loucos que consomem minha lucidez, divido pensamentos desconexos, associo palavras e pessoas. Alucino ao fim da tarde, perto de não sei quem, ainda. Um acordo para meu sono.

ELE

Ainda dopada de veneno
que me dosa o humor
Veneno seu ou de qualquer outro
que não me mata,
me desce a garganta
como cachaça barata
e o gosto que gosto,
desta rejeição passiva,
desta solidão passiva,
de todos os gritos ouvidos,
dos prazeres sutis percebidos.

Talvez isso sirva
minha acomodação...

Seria cruel agora
Fazer entender um porque
desta morte
desta contradição
deste ópio
que me faz sentir entre arames farpados.

Superficial

(Magritte)
Na calçada,
paro por um pedaço de papel
escrito em poucas palavras,
em versos versados do avesso
de qualquer romance
(cem gramáticas que nos prendem!)
No canto,
o vento vela o sono de um velho mendigo
o vistoso homem vê a cena à vontade
e em vão,
passa seus olhos pela viela
No canto quase falado, na carta de amor
já esquecida na sarjeta,
algum desencontro
(quase safado)
marcam amores e amantes que não se tocaram
sacramento consumado somente pelo consolo da alma.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Hoje não é dia...


Nestes dias de casa suja, todos os músculos de meu corpo doendo, a minha única companhia toca a ponta de meus dedos, como se falasse comigo enquanto traduzo seus códigos. Escuto Billie Holiday como se estivesse embriagada, a música chega ao fim e sinto que agora teria de sorrir... mas não posso!
Caro leitor, não exija de mim sentimentos que não me convencem. Nessa vida corrida em que o tempo é medido pelo pulso todos os dias, estar aqui sentada me faz parar de respirar por um minuto e esquecer o gás carbônico,o chefe, o trampo, o tiner, o time, o tempo... mas não me faz sorrir!
Estar aqui agora me faz correr mais depois e se quisesse sorrir ligaria a T.V., se quisesse mesmo esse tempo só pra mim me masturbaria, e se enfim não tivesse dúvidas... ah isso sim me faria sorrir!

Ode ao Professor


Tenho a mania de me azarar, o azar de realizar minha vontade de ter tudo, sentindo um bem-estar mesmo após um feito inoportuno. Sim, me apego, um tanto de tanto.

Bastou me uma palavra e duas bochechas rosadas, havia três ou mais pessoas à volta, os olhos roçavam, buscavam...

Amaldiçoam a minha alegria por ser mundana. Maldita vontade fora de gaiolas! Mas é isso que dá sentido ao sentimento, do inocente ao mais profano. O não deixar ali, o pensamento só.

Depois da ressaca, regressa o desejo. Sóbria, ressuscito um segredo já findo! (Tal dita boca má)

Uma proposta: _ Silêncio pela sua alma.

Uma troca: _A alma pelo seu corpo?

Um dia digo isso a ele!



(Prosa poética, resposta ao poema de meu amigo Leon d' Aguiar, que o escreveu após escutar vários minutos de confissões de minhas peripécias inesperadas)

Suo som e deixo soar


Entre caminhos recentes
e rastros sonoros,
me embriago de brisa,
sedento...
Entre o desejo e o inferno,
entre o verso e o terno,
me enterro a sete palmos de ilusões.
Entre! Você e o seu cio
e o vazio de sua alma louca,
fique entre eu e a ávida vida que levo,
entre o trabalho e o palco
(a solidão que carrego),
entre a cortina e o teto.

Insônia II

Nudez!
Não me comove
Será que devo procurar uma cartomante?
Ir a manicura talvez me faça sentir um pouco mais mulher...
A paixão não me move
Talvez deva ir mais ao cinema,
ou a orgias
Ler livros?
Já não me faz bem...
Preciso acabar com essa falta de emoção que me causa insônia
Ou será que devo tomar um calmante?

Insônia I


Mais uma noite...sei que ainda não vou dormir! Gosto da noite, a essas horas tudo fica mais claro pra mim. Acho que é a angústia, não a solidão, angustia somente. Gosto do silêncio também, pois é de madrugada que escuto o barulho do botão da T.V., quando desligo, das teclas do computador, e do meu ventilador velho.Volto pro quarto, cada vez mais suja e cheirando a cigarro. A maldita comédia que me fez pegar a caneta e voltar a escrever. O problema é que eu odeio esse meu jeito de botar a culpa em tudo, no filme, na insônia e nos outros. Fumei mais um cigarro, que não me fez bem, contei as bitucas no cinzeiro e tive vontade de quebrar tudo, e só não o fiz porque isso seria o mais óbvio e sensato que poderia fazer, em vez disso fui cagar.

Tenho um espelho na sala, que mudo de lugar todos os dias, não sei ainda se ele me incomoda, e apesar de não me interessar por isso, vi nele hoje alguém que não era eu. Por mim o dia já clareava, mas ele sempre começa e termina quando quer. Enfim, depois do drama, fico satisfeita. Ainda não durmo.